A intensa trajetória de RPM

Luciana Piva
4 min readApr 4, 2018

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Um sucesso jamais visto antes no país. A banda RPM teve uma passagem rápida, porém intensa, vivendo todos os clichês dos rockstars. Alcançaram o impressionante número de 3 milhões de discos vendidos e mais de 250 shows feitos em menos de um ano! Quando adolescentes, os integrantes sonhavam em ser iguais àquelas bandas que ouviam trancados no quarto. Luiz Schiavon era pianista clássico e montou uma banda que tocava covers e algumas músicas próprias, assistida por uma pequena plateia de meninas que moravam no prédio da frente ao dele. Uma delas namorava Paulo Ricardo, um garoto que morava em Brasília e compunha músicas. Paulo na época estava com 16 anos de idade e quando foi apresentado à banda, ficou encantado com o talento e profissionalismo dos meninos. Porém acompanhou de perto o final do grupo, após uma discussão sobre o que era melhor: fazer rock em português ou em inglês?

Foi convidado por Luiz para ser seu parceiro musical. Os dois tinham em comum o gosto por rock progressivo, tocado por bandas como Gênesis e Pink Floyd. Paulo também escrevia sobre música em jornais e revistas e acabou mudando-se para Londres. Nessa época Schiavon cuidou de toda a formatação do RPM enquanto Paulo escrevia suas letras. Ambos eram muito críticos com o trabalho um do outro e chamavam-se de “S/A — Sociedade Anônima” pois eram apenas os dois. Em 1982, Paulo conheceu o escritor Marcelo Rubens Paiva, que o apresentou à Tomáz Munhoz, presidente de uma gravadora. Deixou com ele uma fita demo e foi chamado pelo diretor artístico Marcos Maynard, que gostou muito do que ouviu. Mas o RPM ainda precisava de um baterista e um guitarrista e Fernando Deluqui e P.A. fecharam o quarteto.

Entraram para o cenário musical de São Paulo, tocando em boates esfumaçadas e em danceterias, como o Madame Satã. Gravaram o primeiro compacto, com “Loiras Geladas” e “Revoluções por Minuto”. Mas o primeiro grande show como uma banda profissional foi no Morro da Urca, na boate “Noites Cariocas”, em 1985. Naquela noite chovia torrencialmente e haviam apenas 16 pessoas pagantes na plateia, além de alguns convidados, entre eles pessoas de gravadoras, de rádios e uma TV francesa, que fazia um especial sobre a cena do rock no brasil. O produtor Luis Carlos Maluly também estava lá e percebeu que o material visto no show daria um disco todo e não apenas um EP. O álbum foi gravado e chegou às lojas no mesmo mês, com canções que entrariam para a história do rock brasileiro, como “Olhar 43”, “A Cruz e a Espada” e “Rádio Pirata”.

Por meio do empresário musical Manoel Poladian, conseguiram um teatro exclusivo para os ensaios e a direção artística de Ney Matogrosso para seus shows. O sucesso surgiu e os ingressos dos shows começaram a esgotar. Mas a grande sacada de Ney foi inserir na apresentação um momento mais íntimo, com a música “London London”, composta por Caetano Veloso. Instantaneamente a música estourou nas rádios por meio de gravações feitas durante os shows por terceiros. E ela nem havia sido oficialmente gravada!

Para atender a essa demanda, foi produzido o disco “Rádio Pirata Ao Vivo”, com músicas do primeiro álbum e o acréscimo de inéditas, incluindo “London London”. O quarteto passou a ser idolatrado pelos fãs, a fama subiu repentinamente e, junto com ela, um monte de compromissos, contratos, shows, drogas e mulheres. Paulo Ricardo começou a se destacar mais do que os outros integrantes da banda, ao ser convidado por revistas para matérias exclusivas, tornando-se o maior símbolo sexual brasileiro e o rosto do RPM. Isso naturalmente acabou despertando ciúmes entre os demais e uma luta entre egos apareceu. As primeiras discussões começaram a surgir, principalmente entre Paulo e Schiavon, que não sentia sua importância como produtor musical reconhecida.

As crises se agravaram e alguns shows do RPM foram cancelados quando Paulo foi detido pela polícia por porte de drogas. Mas a banda não parava: gravaram duas músicas em parceria com Milton Nascimento e produziriam um filme. Toda essa loucura provocou o primeiro rompimento entre os integrantes, com visões diferentes sobre o trabalho. A separação durou três meses, até que a gravadora decidiu intervir, reunindo os garotos em uma casa em Búzios — RJ, objetivando uma reconciliação e a produção de novas músicas para um novo álbum. O encontro resultou no disco “Quatro Coiotes” (1985), sem o mesmo sucesso do primeiro.

Mas o término do RPM foi inevitável. A briga final aconteceu quando Luiz Schiavon pediu à gravadora um álbum solo, sem que os outros integrantes soubessem. Quando a banda descobriu suas intenções, formou-se uma grande discussão e dessa vez o prazer de tocar junto entre os garotos havia acabado. Anos mais tarde se reuniram pontualmente para alguns projetos, matando um pouquinho a saudade dos fãs e deixando aquele gostinho de nostalgia.

Por Luciana Piva

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